sexta-feira, novembro 01, 2002

Aí eles responderam:

Olá ,

- Não, pois com a evolução da injeção eletrônica e da mistura
do álcool a nossa gasolina(25%), a taxa de compressão dos
motores a gasolina estão bem próximos aos do álcool.

- Sim. Nós aconselhamos a instalação de um kit de partida a frio
para não haver problemas com a partida com motor frio.Esse
problema ainda continua nos carros a álcool por ser um combustivel
frio.

- Basta lembrar novamente que nossa gasolina contem 25% de álcool
e outras substancias que nem sabemos, mas de qualquer forma todos
esses componentes resistem ao álcool.

- Não. Não há nenhum problema com o catalizador.

- Já testamos carros, que rodaram mais de 100.000 km e não
apresentaram nenhum problema referente a conversão, a não ser
os problemas normais de carros com essa quilometragem.

- O consumo vai aumentar aproximadamente 15%
Seu carro vai ter um aumento de desempenho.

- Ligue para nós para tirar mais dúvidas
Um cara ofereceu transformação do carro para álcool. Não, não é o que vc tá pensando! Não é para transformar carro em álcool, é só para mudar o tipo de combustível que ele queima! (Essa foi engraçada demais)

Perguntei:

Olá

Recebi seu email propondo conversão para álcool mas não compreendi como pode
o remapeamento do microcontrolador da injeção suprir todos os parâmetros que
envolvem a conversão convencional.

Pergunto:

Não seria necessário o rebaixamento do cabeçote para aumentar a taxa de
compressão ?
Minha região é fria, no inverno as temperaturas vão facilmente abaixo de
zero. Não necessito de sistema auxiliar para partida com gasolina?
Todos os elementos do sistema de alimentação (tubos, bomba elétrica, filtro,
conectores, bicos, indicador de nível) suportam o ataque corrosivo do
álcool?
É sabido que o catalisador deve ser substituido para funcionar corretamente
mas caso não seja substituído não pode ocorrer inscrustração com decorrente
obstrução?
O sistema de descarga convencional (mesmo o galvanizado) suporta a mudança
de combustível?

Favor informar os resultados práticos da conversão proposta, qual o consumo,
desempenho, etc.

Desculpe o questionário mas fiquei realmente curioso!
Depois disso ele não mandou mais nada.
Será que desencanou?
O que é desencaná?
Eu ia ficar quieto, mas o cara é vereador e precisa de um mínimo de recursos, então acabei respondendo:


Tenho me esforçado para dedicar cada vez menos atenção a questões deste tipo
pelo simples motivo de que o assunto é extremamente complexo e qualquer
"filósofo de butiquim", como eu mesmo, acaba encontrando um equacionamento
simplista, para dizer o mínimo.

Filosofando um "pouquim" diria que vale a pena contextualizar o
subdesenvolvimento destacando os aspectos Colonização e Religião. Vale a
pena olhar a India antes durante e depois do domínio colonial Inglês assim
como vale a pena olhar para o Japão focalizado em suas belicosas entranhas,
tentando entender o que justificaria a humilhante ocupação nipônica sobre a
Manchúria, seus campos de concentração, a usurpação da cultura chinesa e,
mais tarde, americana. E por falar na América, é bom conhecer sua doutrina
de pleno domínio que ascende aos primórdios daquela nação.

Apelo agora ao conceito de riqueza, será que alguem sabe realmente o que é?
Seria riqueza a posse de um carro e um celular para cada membro de cada
família ou a possibilidade de usufruir de longa vida saudável e em paz num
planeta limpo? Dúvidas podem pairar mas, infelizmente, talvez seja mais
correto definir riqueza olhando de frente para sua face mais apavorante e
imoral, algo como usufruir da melhor forma possível a vida, enquanto ela
durar, eliminando impiedosamente seus opositores e explorando
delinqüentemente o que estiver disponível, mesmo que venha a faltar até aos
próprios descendentes.

Sempre me pergunto: -O que é "rico"? ou -Quanto é "ser rico"?
Passeando por estas indagações esbarro em uma questão prática: A cantora
Madona (ou seria Madonna?) já é rica? Será que ela já tem o suficiente para
viver confortavelmente o resto de seus dias? Caso já o tenha, precisa ganhar
mais algum dinheiro? Para quê?
Quando tento responder estas questões vejo claramente aquele filme do
caçador de andróides. Lembra? Aquela coisa dos replicantes que queriam
encontrar o cara que tinha projetado eles e eles queriam mais tempo de vida
e pairava a pergunta : Quanto tempo é o suficiente?
Se você, como eu, tambem acha que aquele filme não estava falando de
andróide nenhum e que aquilo tudo era uma metáfora de nós humanos que vamos
a um Templo qualquer à procura de nosso criador pleiteando vida eterna, já é
um bom começo. Significa que estamos saindo lá de baixo, daquele lugar que
os consultores chamam de "ignorância inconsciente" e atingimos o novo
patamar chamado "ignorância consciente".

A partir daí fica bem mais fácil prosseguir ... ou desistir!


Paulo, desculpe a eloquência, mas acontece que eu escrevo o que penso e o
faço porque não admito portar-me como signatário incondicional do pensamento
alheio. Talvez até por isso você já tenha me rotulado de polêmico! Para meu
alento recorro ao Nelson Rodrigues em sua célebre frase sobre a
unanimidade...
Um cara me mandou seguinte texto como sendo "Um Bom Texto":

BOM TEXTO. Vale a pena ler..
Assim como há pessoas pobres e pessoas ricas há países pobres e países
> ricos.
> A diferença entre os países pobres e os ricos não é a antigüidade do
país.
> Fica demonstrado pelos casos de países como Índia e Egito, que têm mais
> de mil anos de existência e são pobres.
> Ao contrário Austrália e Nova Zelândia,que há pouco mais de 150 anos
> Eram quase desconhecidos, hoje são, todavia, países desenvolvidos e >
> ricos.
> A diferença entre países pobres e ricos também não está nos recursos
> naturais de que dispõem, pois o Japão tem um território muito pequeno e
80%
> dele é montanhoso, ruim para a agricultura e criação de gado, porém é a
> segunda potência econômica mundial: seu território é como uma imensa
> fábrica flutuante que recebe matérias-primas de todo o mundo e os exporta
> transformados, também à todo o mundo, acumulando sua riqueza.
> Por outro lado, temos uma Suíça sem oceano, que tem uma das maiores
> Frotas náuticas do mundo; não tem cacau mas tem o melhor chocolate do
> mundo;
> em seus poucos quilômetros quadrados, cria ovelhas e cultiva o solo
> quatro meses por ano, já que o resto é inverno, mas tem os produtos
lácteos
> de melhor qualidade de toda a Europa.
> Igualmente ao Japão não tem recursos naturais, mas dá e exporta
> serviços, com qualidade muito dificilmente superável; é um pais pequeno
> que passa uma imagem de segurança, ordem e trabalho, que o converteu na
> caixa
> > forte do Mundo.
>
> Também não é a inteligência das pessoas a tal diferença, como o
> Demonstram estudantes de países pobres que emigram aos países ricos e
> conseguem resultados excelentes em sua educação; outro exemplo são os
> executivos de países ricos que visitam nossas fábricas e ao falar com
eles
> nos damos conta de que não há diferença intelectual.
> Finalmente não podemos dizer que a raça faz a diferença, pois nos países
> centro-europeus ou nórdicos vemos como os chamados ociosos da América
> Latina(nós!!) ou da África, demonstram ser a força produtiva desses
países.
> O que é então que faz a diferença?
> A ATITUDE DAS PESSOAS FAZ A DIFERENÇA.
> Ao estudar a conduta das pessoas nos países ricos se descobre que a maior
> parte da população cumpre as seguintes regras, cuja ordem pode ser
> discutida:
> 1) A moral como princípio básico;
> 2) A ordem e a limpeza.
> 3) A integridade.
> 4) A pontualidade;
> 5) A responsabilidade;
> 6) O desejo de superação.
> 7) O respeito às leis e aos regulamentos.
> 8) O respeito pelo direito dos demais.
> 9) Seu amor ao trabalho.
> 10) Seu esforço pela economia e investimento.
> Necessitamos de mais leis?
> Não seria suficiente cumprir e fazer cumprir estas 10 simples regras?
> Nos países pobres, só uma mínima (quase nenhuma) parte da população
> segue estas regras em sua vida diária.
> Não somos pobres porque ao nosso país falte riquezas naturais, ou por
> que natureza tenha sido cruel conosco, simplesmente por nossa atitude.
> Nos falta caráter para cumprir estas premissas básicas de funcionamento
> das sociedades.
> Se você não repassar este e-mail, não vai morrer seu animal de estimação,
> nem você vai ser mandado embora do emprego, nem vai ter má sorte
> por 7 anos,etc.
> Se amar seu País, faça circular esta carta para que a maior quantidade
> possível de gente medite sobre isto.
> Se esperarmos que o governo solucione nossos problemas, ficaremos toda a
> vida esperando.
> Quanto mais empenho colocarmos em nossos atos e mudarmos nossa atitude
> pode significar a entrada do nosso país na senda do progresso e
bem-estar.
>
> O pessimista se queixa do vento, o otimista acredita que ele mudará, e o
> realista ajusta as velas.
Olá!

Prá começar quero te dizer que eu vivo me degladiando com o incômodo das religiões, seu uso político e especialmente comercial. Só prá ter uma idéia fiquei sabendo que em Itajubá - MG onde meu filho estuda, um corretor de imóveis que alugou a rep deles disse que lá tem a seguinte oferta : " Igreja com fiéis" (só faltou mencionar qual é o movimento men$al).

A TEORIA...

Minha teoria (de butiquin) tenta explicar a utilidade da religião e de começo vai uma história:
Estava na roça (mineiro chama sítio de roça) em uma noite de inverno como só tem por aqui, o céu limpinho de tudo fervilhava de tudo quanto era coisa, estrela, lua, estrela cadente, coruja e morcego. Curioso em escutar uma coisa diferente perguntei pro caseiro o que ele achava que era aquilo tudo (fora coruja e morcego) e ele me respondeu:

-"Meu Pai dizia que prá gente podê dormí tinha que escurecê e então Deus fez uma lona preta que toda noite Ele puxa prá tapá o sór. Como essa lona é muito antiga, ela já tá que nem aquela do café, cheia de furinho e pelos furinho passa a luz do sór pipocando tudo de estrelinha..."

Ri um bocado daquilo tudo até que o Camilo virou prá mim e perguntou: Isso não é verdade?...

Verdade ou não, aos poucos eu vou percebendo que todo mundo tem alguma explicação para tudo o que ignora, simplesmente porque não dá pra viver com mistérios pendentes. Coisas sem explicação causam angústia e medo, o medo de que justo daquele troço misterioso pode sair algo que vai ferrar com a gente. Por outro lado cada pessoa tem o conhecimento com uma fronteira delimitada, em uma primeira fase, por todas aquelas perguntas que fazemos mas não sabemos a resposta (ainda) e, mais à frente, por aquelas perguntas que surgirão quando aumentamos nossa fronteira. Eu tenho a minha fronteira, vc a sua e o Mané da esquina a dele.
E o que isso tem a ver? É que à medida que andamos para os primórdios da humanidade, e isso é bem antes da TV em côres (meu filho perguntava se existiu mesmo TV P&B e se na camisa do artista vinha escrito a cor, no rosto não precisava porque ou era P ou B), a fronteira de todos era bem menor e praticamente tudo era mistério. Os caras podiam não ter conhecimento mas ninguem era burro não, basta ver o estrago que caras como Foucaut, Lagrange, Fourier, Laplace, Niquist, Chebichev, Boole e até Mario de Andrade fazem na cabeça da moçada ainda hoje. Como não eram burros eles tinham perguntas e na falta de respostas valia a pena aceitar até a lona preta!
Outro aspecto importante, e talvez o mais importante, é a necessidade do homem viver em sociedade. Um grande cérebro solitário não faz uma grande diferença diante de um grande inverno ou de um grande tigre ou de um grande período para a maturação de suas crias. O homem é um ser fisicamente frágil e, segundo os pigmeus, saboroso.
Tudo bem, vamos então viver em sociedade para melhorar nossas chances. Vamos caçar juntos, tecer, namorar, criar nossos filhos, vamos nos defender em grupo, etc.
Será que dá prá fazer isso tudo sem regras de convivência? É claro que não, ficaria tudo uma baita bagunça comprometendo fatalmente qualquer grupo social. Vc conhece algum grupo sem regras? Indios, Religiosos, Bandidos Soltos, Bandidos Presos, Políticos (grupo das derrapinas)?
Todos os grupos sociais obedecem a regras mas tal obediência raramente é expontânea porque geralmente a maioria dos membros do grupo tem sua fronteira do conhecimento abaixo do esclarecimento da necessidade de cumprir as regras e o porque delas existirem, e não se trata apenas de problemas culturais: os muito jovens e as crianças, os privilegiados que não conhecem o sofrimento e os miseráveis sempre estarão abaixo do discernimento entre o bom e o nefasto para a sociedade, para eles acaba prevalecendo seu instinto seu id e cá entre nós, nem eu, nem vc sabemos bem o que é bom para a sociedade.
E a religião? Bem, eu acho que fica muito difícil respeitar as regras da sociedade quando temos fome, de comida ou outra coisa (vc tem fome di quê?), principalmente quando ninguém está olhando. Mas e se tiver um baita olho, dentro de um triângulo, vendo tudo e todo mundo o tempo todo? E se vc não consegue ver onde tá o tal olho mas todo mundo garante que ele existe? E se esse olho tá ligado numa baita plataforma relacional de dados que vai puxar todas a suas mancadas prá esfregar no teu focinho depois que vc bater as botas? Aí a coisa muda de figura, parece que diante disso não é tão difícil seguir as incômodas regras, mesmo quando não tem (quase) ninguém olhando.
É isso aí, a minha teoria é que a religião é uma espécie de cola que permite que os homens possam viver grudados formando a sociedade. Nem todo mundo precisa desta cola, eu e vc talvez tenhamos condições de viver sem sacanear ninguem e ajudando quem precisa, mesmo sabendo que "morreu acabou", não tem céu nem inferno, só energia dissipando. Mas será que um boçal de gravata, terninho e bíblia vai respeitar a gostosa mãe do seu amigo se descobrir que Deus não vai castigar ele depois?
Eis a minha teoria.
O que mudou pra mim depois da formulação desta nobre teoria? Depois dela tenho sido mais tolerante com a religião porque sinto que ela desempenha um papel importante na sociedade, sinto-me incomodado com a religião mas tenho certeza que sem ela meu mundo seria muito pior ou talvez nem existiria.
O que pode-se fazer para melhorar esta situação? Primeiro é não colidir com as religiões e seus membros, é melhor capacitar as pessoas para a racionalidade que ao meu ver é uma espécie de vacina.
Minha esposa foi procurar uma psicóloga para a filha.
Paguei a conta do meu filho, ele nem deu as caras.
Minha mulher realmente recusou a viagem.
A chuva foi muito boa.
O novo governo não tá com boa cara.
O povo já tá greveando.
Eu tô na minha.
Animadão e contente com a resistencia que ainda tenho.
Para uma semana que não vai deixar saudades...

Ah, e o Paulo Coelho agora é imortal...
O problema é que vem muita porcaria, e às vezes jogo tudo fora.
Falar comigo não é difícil não, china@projesom.com.br

Preparei uma listinha tentando caracterizar algo que ocorre hoje em dia com bastante frequência:

1- apoderar-se de algo por violação de regras, tornando-o inoperante;

2- causar constrangimento ou sofrimento a terceiros, decorrente da violação cometida;

3- identificar e anunciar alvo do seu atentado;

4- estabeler valor ou termos para a cessação da violação;

5- iniciar negociações, pacientemente, considerando que o tempo decorrido agrava a situação do violado;

6- finalizar as negociações norteando-se pela garantia de impunidade alem do atendimento de seus objetivos;

7- libertar o violado sem maiores garantias cessando assim a violência de forma tambem violenta;

8- o sucesso nas negociações fortalece outros grupos estimulando novos atentados.

Sequestradores X Grevistas
Você sabe a diferença? Nem eu.

Evidentemente não falo de greve nos moldes de Ghandi como quando mobilizou pessoas a produzirem seu próprio sal e vestuário como forma simbólica de denunciar ao mundo a opressão colonial Inglesa. Esta diferença eu sei, e você tambem..

quinta-feira, outubro 31, 2002

Hoje eu ofereci à minha esposa um passeio especial.
Somos participantes de um grupo chamado BeOne que é uma coisa onde um monte de gente diferente compartilha de um pensamento razoavelmente parecido, comportamento idem, e surgiu a oportunidade de seguir com o grupo até Buenos Aires numa excursão acompanhando o lider da matilha, um tal de Jean, que agora pretende desbravar os pampas espichando as fronteiras de sua "doutrina".
Sugeri que ela participasse, primeiro porque ela gosta muito ( e eu também ), segundo porque ela poderia ir sem a minha companhia e terceiro porque ela poderia alijar-se um pouco deste momento "especial".
Não foi surpresa ouvir que ela declinava do convite pois sentiria-se covarde, fugindo de casa em um momento crítico como este.
Disse-lhe que não se tratava de fuga e sim de preservação. Minha experiência tem mostrado que quando ocorre uma crise (ou doença ou acidente) com um filho ela tambem sucumbe duplicando meu trabalho na gestão do problema. Até dei um exemplo:
Disse-lhe "-Se você não sabe nadar, qual a razão para tentar socorrer um afogado? Tudo que vai acontecer é tornar a tarefa de outro dobrada no socorro a dois afogados."
Ela concordou com minha argumentação mas persistiu na recusa ao passeio.
Eu compreendi.


Percebo que o verdadeiro sentido da solidão reside no momento em que temos que tomar uma decisão. Se é realmente uma decisão sua e se é importante então você está realmente só, se você não está só ou a decisão não é importante ou não é sua!
TODOS QUEREM IR À ECOLOGIA, MAS NINGUEM QUER IR À PÉ !
E o que aconteceu depois no caso do corte do cabelo da minha filha?
Bem, o dia não tinha nada para ser normal e desta forma eu que costumo chegar em casa lá pelas oito e meia ou nove da noite, resolvi voltar mais cedo. Coincidentemente, minha mulher que costuma chegar pelas seis ou sete só chegou além das oito e meia, ou seja, trocamos nossos horários por uma incrível sabedoria do destino.
Normalmente estou à pé mas ontem em particular fui de carro para levar uma nova bicicleta que comprei para o Boy e que por um motivo que agora não vem ao caso foi entregue na minha casa.
Eu sou o primeiro e mais cético a contestar situações de premonição, penso portanto que havia elementos para que suspeitasse que minha filha tivesse cometido algo contra si e até por isso mesmo é provável que eu tenha voltado mais cedo ( e minha esposa mais tarde ). Não frustrou-se minhas suspeitas, a casa estava anormalmente obscura e silenciosa, como se solenemente sinalizasse que havia presenciado algo que não aprovava mas não conseguira impedir. Ví luz nos aposentos da minha filha, as persianas cerradas compartilhavam o comportamento do resto da edificação. Abri a porta e avancei pela sala escura, acendi a luz e dirigí-me rapidamente para o quarto dela.
Lá estava minha filha, envolta em bastante sangue com uma pequena faca na mão direita e o punho esquerdo atingido pela lâmina. Felizmente logo vi que o corte estava muito acima do punho propriamente dito, já era quase antebraço e apesar de certa profusão de sangue a quantidade era incompatível com volumes letais.
Balbuciei algo desaprovando aquilo tudo e acometido por uma calma incomum nessas circunstâncias, analisei melhor aquilo tudo, concluí que realmente não haveriam maiores consequências do atentado, pelo menos não à integridade física da minha filha.
Falei com ela, perguntei inicialmente se tinha feito algo com a neném ao que ela tranquilizou-me negando. Observei muito sangue em seus pés descalços mas não havia outra incisão então perguntei o motivo de tanto sangue nos seus pés e ela simplesmente disse não saber do que se tratava.
Como o sangue no braço já estava estancado, mandei que ela se levantasse para, no banheiro, remover aquela sujeira toda permitindo que eu pudesse avaliar melhor a extensão do problema. Ela dizia estar com tonturas e amparei-a, conduzindo-a ao lavatório.
Passado o momento mais exuberante pude tranquilizar-me diante da real situação isenta de risco mas portadora de uma intensa mensagem de que estava diante de um grande desafio.
Aos 42 anos do meu irmão caçula:

Aí vai uma lembrança com mais de 30, ou como dizia o Casemiro de Abreu:

"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!"


Barco a Vapor


-O Reginaldo da Maria da Esquina disse que nas lojas Americanas tem o
barquinho a vapor da Estrela, aquele que funciona com um toco de vela que a
gente acende depois de encher o tanquinho de água e funciona igual ao de
verdade.
-Se a gente guardar o dinheiro do doce e voltar a pé do cinema vai dar prá
comprar mas tem que ser dos dois, o meu e o seu. A mamãe disse que a gente
pode ir pro cinema domingo na matinê do Carlos Gomes e aí a gente não compra
doce, volta a pé e dá o dinheiro pro Reginaldo que ele compra prá gente!
Legal?
...
-Não, hoje não vamos comprar doce. Lembra que combinamos de guardar para o
barquinho?
...
-Agora nós vamos para casa à pé, prá poder comprar o barquinho.
...

-Ô Sérgio Luiz, faz xixi aí no mato mesmo. Eu sei que o sapatinho tá
apertado mas aguenta um pouquinho mais, já estamos quase na metade do
caminho...

-Agora já tá quase terminando a subida, deixa eu ver onde tá doendo.
-Nossa! É melhor tirar o sapatinho, eu sei que vai sujar o pé mas quando
chegar em casa a gente lava o seu pé na torneira do Davi e a mamãe nem vai
descobrir que você veio descalço.

...
-Não chora não, agora só falta um pouquinho, nós estamos tão perto que nem
tem ponto mais prá pegar o ônibus, pensa no barquinho que você aguenta.
...

-Tá vendo, conseguimos. Amanhã eu deixo o dinheiro com o Reginaldo.
...

-Já entreguei o dinheiro prá ele, ele disse que a Mãe dele vai pro centro
esta semana e ele vai junto, daí ele compra!
...

-Não, ele não foi ainda, depende da Mãe dele, ele acha que é amanhã.
...

-O Reginaldo devolveu o dinheiro, disse que o preço era outro, não vai dar
prá comprar o nosso barquinho.
-Eu tambem tô triste. Puxa, isso só acontece com a gente!



Feliz aniversário!
Mesmo sem barquinho.
"Deixa eu brincar de ser feliz com as criançinhas inocentes."
Será que é isso?
Ser feliz é coisa séria, não se deve brincar com isso!
Finalmente a chuva tem sido mais generosa, minhas mudas estavam agonizando. Esta semana devo semear gergelim e talvez seja a hora de prosseguir com a roça do milho para o ano que vem. A terra tá uma beleza!
Estou tentando convencer minha esposa a participar de uma viagem a Buenos Aires com um grupo do BeOne, vai ser muito bom prá ela...
Na minha terra tem um ditado:"Por causa de uma tripa se perde a barrigada"
Ontem falei com minha filha, perguntei como tinha sido seu dia na escola e ela disse que foi monótono já que boa parte da turma ausentou-se para participar da excursão à USP. Disse também que não teve aula de química e que no último horário houve a reunião dos poucos alunos de cada classe para um bate papo com a orientadora da turma.
Não suportando tanta mentira sua mãe interrompeu-a perguntando por que então ligaram da escola comunicando que ela tinha faltado.
Após a costumeira e inútil tentativa de tentar contrariar nossa informação intercedí aconselhando-a a facilitar as coisas evitando maiores desgastes neste episódio.
Como a Mãe havia constatado na sua agenda alguns dias onde relatava que não ter ido à aula, perguntei quantas vezes mais ela havia feito isso ao que ela respondeu não saber ao certo. Após muita insistência estimou ter matado aula cerca de cinco vezes e que todas a vezes ficava passeando pela cidade.
Indaguei se quando ela tomava tal decisão (cabular aula) ela também considerava o quanto nos esforçamos para mantê-la na escola, se ela dirigia um pensamento ao trabalho de sua Mãe que todo dia afasta-se de seus compromissos para tomar conta de sua filha, fruto de uma aventura precoçe que lhe pôs gestante aos 13 e se imaginava o quanto seu futuro pode depender desta oportunidade desperdiçada. Ela respondeu que no momento em que age não pensa nestas coisas mas tem consciência e reconhece o nosso empenho e seu compromisso (?!).
Diante de seu evidente e confesso erro determinei que ela mesma determinasse sua punição ao que ela afirmava não ter idéia do que seria adequado.
Determinei então que ela separasse suas roupas preferidas e que até dezembro só usaria roupas simples e fora de moda, inclusive no Natal. Disse também que esta não era punição suficiente e que ainda aguardava sua auto-punição.
Após muito esforço ela citou que ficaria impedida de suas atividades sociais, telefonemas passeios e festas com os amigos.
Recomendei uma tarefa doméstica e sua mãe sugeriu que ela passe todas as roupas da filha e eu incluí o corte de seus longos e idolatrados cabelos.

Este era o ponto nevrálgico!
Sem falar, balançou a cabeça de forma negativa...
Já muito atrasado para o retorno do almoço, dei-lhe dinheiro para o corte e fui para o serviço.

quarta-feira, outubro 30, 2002

Todo aquele que trabalha deve ser pago por isto.
E, sendo pago, deve trabalhar.
Ah, por falar em semana ruim, ontem tomou posse na Academia o Paulo Coelho!
Êta semana danada sô!
Semana ruim, minha filha matou aula e eu peguei no fraga. Há momentos em que tudo parece desmoronar, mas tá longe de me derrubar.
Vâmo em frente que quem fica parado é poste!

terça-feira, outubro 29, 2002

Muita gente nem percebeu que votou nele...
Temos um novo Presidente da Nossa República, o nome dele parece que é Zé Dirceu
Filho

Um fornecedor de computadores informa que vc deve passar lá para acertar o pagto de um monitor
usado (R$150) e um cheque sem fundos de R$94

Sei que minha opinião não lhe diz respeito mas vc está trilhando um caminho
muito, muito ruim e seus atos têm causado danos bem maiores do que pode
imaginar. Até sua mãe manifesta estremecimento da confiança em ti.

Se ainda estiver lendo, considere quanto supõe que esteja valendo hoje a sua
palavra, tente estimar o que representam atualmente suas promessas, tipo
quando vc diz que vai passar lá em casa tal hora. Finalizando o
auto-diagnóstico tente imaginar o quão desvalorizadas podem estar suas
prolíficas desculpas.

Se ainda estiver lendo, saiba que quero poupá-lo da sentença que lavras
contra si de próprio punho, nós dois sabemos as consequências mas vc as
ignora intencionalmente como que regojizando-se da progressiva experiência
de auto-destruição do conceito moral.

Se ainda estiver lendo, sugiro que procure alguem de sua confiança, uma
pessoa honrada, competente e disposta a ajudá-lo. Exponha sua situação e
usufrua do que advir respeitando os conselhos que vier a receber aplicando-os
e reportando sistematicamente os resultados ao seu confidente. Desta forma
você estará percorrendo um outro caminho que pode levá-lo para longe do
destino atual.

Se ainda estiver lendo, recomendo que tal confidente não seja sua Avó, não
porque ela não seja honrada, competente ou disposta a ajudá-lo, é que talvez
você não consiga ser adequadamente sincero com ela ao expor sua situação talvez por
uma espécie de escrúpulo íntimo ou porque tema que ela não suporte toda a
verdade.

Se ainda estiver lendo, informo que sua reabilitação tem um custo que
atualmente lhe é muito alto e é cobrado por antecipação cuja unidade
monetária é H$ (o humilde) e lamentavelmente este recurso vc não poderá
receber por empréstimo, ganhar, comprar e muito menos furtar. Só é possível
receber H$ em troca de algo que sempre temos mas muitas vezes não
queremos dispor, o orgulho.

Se ainda estiver lendo, responda a esta mensagem do jeito que achar melhor,
para mim será como um reflexo pupilar no coma, aquele pequeno sinal que nos
enche de esperanças.

Pai