sábado, novembro 01, 2003

Dei uma mexida no meu blog, espero não ter ferrado nada !
Pela manhã, falando com o Hiro, ele informou que o Lefer não estava por lá e que iria procurá-lo. De certa forma surpreendeu-se com a notícia, apesar de todos sabermos que o Pai dele estava mal e que seu fim seria breve.
Conversamos tambem sobre o contrato e coisas mais leves porque intuitivamente sabemos que a vida é feita de vida e não de morte.
Nesta madrugada o Lefer ligou, era uma e meia da madrugada, sua voz estava um pouco alterada durante os cumprimentos iniciais mas desabou em prantos quando comunicou que seu pai havia falecido.
Ele estava mais só do que nunca e disse que quando chegou à noite encontrou apenas um bilhete na porta deixado pela Lili com a triste notícia.
-"Eu aqui nesta chácara tão grande..." , escapou de suas palavras e compreendi a real dimensão do momento que este amigo estava passando.
Conversamos um bocado. Lamentei não estar lá para chorar com ele naquela vã tentativa de diluir em lágrimas a dor de perder um pai mesmo sabendo que o único solvente para tal dor é o vigoroso tempo que no seu transcurso vai erodindo as arestas incisivas que nascem nestes momentos singulares.
O Lefer falou algo a respeito de momento certo no lugar certo, referindo-se à nossa amizade. Acho que o fato de tão pouco nos conhecermos torna nossa amizade tão recente mais forte. Será possível?

Por fim concluo que a grande virtude de uma amizade é justamente a ambiguidade de nos sentirmos felizes e lisonjeados pelo convite de compartilharmos a dor do amigo.

E nem deu tempo de fazer um escalda-pé ou dar-lhe um caldo de missô quente....

Descanse em paz, Pai do Lefer.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Hoje, prá variar o Carletti não veio na parte da manhã. Estou desconfiando que ele mata serviço prá poder ficar montando placas em casa com a mulher já que ontem levou material...
Vou começar a observar este comportamento.

Ontem choveu um bocado e minhas mudinhas de gravatá ficaram muito animadas.
Hoje eu passei por vários locais da cidade para preparar um banho diferente para corroer placas mas não deu certo, o banho remove o verniz e acaba corroendo onde não deve. Como aproveitei para orçar um portão, a caminhada não foi perdida, orçaram a R$150,00 / m2.

segunda-feira, outubro 27, 2003

Putz!

Tá caindo um toró duca!
Pus um plástico em cima do monitor prá proteger das goteiras.
O telefone molhou todo e a força chegou a faltar mas o Short-Brake deu conta do recado!
Agora parece que vai amansar a danada..
O Que Realmente Importa ?


Não há quem não pense no fim das coisas, no fim do passeio, no fim do dinheiro, no fim do filme e da novela e, é claro, no fim da vida.
As pessoas estão morrendo à nossa volta o tempo todo por motivos tolos ou não. No meu entendimento a maior dificuldade no enfrentamento do fim é a gula, isso mesmo, a gula. Nós somos gulosos e não nos sentimos saciados nunca! Especialmente quando o deleite é a própria vida, a nossa ou o compartilhamento da nossa com a de outra pessoa que amamos.
O grande problema é que esta ganância prejudica o mais importante que é o perpétuo sabor da vivência, isso mesmo, a vivência é muito melhor do que a vida, ela é o produto da vida, o nobre produto da vida !
Tá difícil entender ? Acho que não. Mas pense um pouco mais usando analogias simples. Deixa eu ajudar com algumas:

1- A criança no parque de diversões vive intensamente o breve período em que está se divertindo no brinquedo. De repente o tempo acaba e ela é pega de sobressalto com a ordem de deixar o brinquedo;
2- o primeiro salário chegou e você vai às compras ou ao passeio para gastar todo o dinheiro de forma mais ou menos inteligente, mas o faz até o fim, quando se dá conta, o dinheiro já era;
3- o palito do picolé estava carimbado e você ganhou o direito a outro igualzinho. Trocou e deliciou-se com o prêmio até lamber o palito e descobrir que este não tinha carimbo e que a festa de picolé grátis estava encerrada;
4- chegaram as férias e o momento daquela tão sonhada viagem. Em quinze dias você passou por oito cidades diferentes, sete hotéis e dezenas de atrações e restaurantes, nenhuma durou mais do que algumas horas, mas mesmo assim você acha que valeu a pena..

Em todos os casos citados, o final está acompanhado muito mais pela sensação de tristeza do que pela alegria da vivência adquirida e isso é muito estranho pois não faz o menor sentido as coisas não terem fim. Mamar é uma delícia, enche nossa barriguinha enquanto recebemos um cafunézinho da mamãe, mas será que faz sentido começarmos nossa primeira mamada na nossa primeira hora de vida e lá ficarmos até hoje, dependurados no seio da mãe só por que estava delicioso? Certamente não. O grande lance foi a experiência de mamar que nos deu vivência na apreciação dos sabores, do tato, do saciar a fome.
A criança no brinquedo vivência a cinética, sensações visuais múltiplas, surpresas. Quanto ao dinheiro, se não quiséssemos que acabasse bastaria não gastá-lo, especialmente com "futilidades" como um presente para a pessoa amada, o propósito do fim do dinheiro é o que vem em troca. Que graça tem ter o picolé e não acabar com ele? E quanto às férias? As férias duraram quinze dias ou elas ficam conosco para o resto das nossas vidas?

Ao meu ver, as vítimas do mal de Alzheimer é que realmente sofrem pois elas perdem o que realmente interessa, a vivência! Elas não conseguem reconhecer seus amados, não se lembram de momentos felizes de suas vidas, nem mesmo se já escovaram os dentes pela manhã. E elas estão vivas e estão vivendo e convivendo com outras pessoas, mas fica tudo uma grande droga, prá elas e para os que com elas convivem e considero redundância qualquer explicação adicional para te convencer disso.

A inquietação humana que a morte provoca é muito presente na arte. Para mim dois filmes retratam, mais ou menos explicitamente, a minha forma de pensar:
Um deles é Blade Runner, uma grande metáfora da vida onde um grupo de andróides buscam seu criador para forçá-lo a lhes conceder maior longevidade. Outro é um daqueles do grandão Schwaszneguer (?) onde uma empresa vende viagens de férias virtuais na forma de transferência eletrônica das lembranças de um passeio, que na realidade nunca ocorreu de fato, para o cérebro do cliente.

Evidentemente não é fácil ficar diante da morte seja ela a nossa ou de outro, mas nossa postura diante da morte influencia demais o grau de sofrimento que ela nos trará.
Dalai Lama, um líder espiritual Tibetano disse em uma palestra que a nossa postura diante da morte influencia, segundo a doutrina Budista, a forma como passaremos para o mundo espiritual e em uma incrível manifestação pragmática ele complementa dizendo: -"Mesmo que não exista a tal passagem (para o mundo espiritual) é certo que é melhor morrermos serenos do que agitados".
Desta forma, tenha sempre em mente o que vale a pena: a vivência. Valorize os momentos da vida antes, durante e depois de sua ocorrência, tenha certeza de que a vivência é o registro da vida e que sem tal registro a vida ou não existiu ou não valeu a pena. Exercite o desafio de transformar momentos de dor em uma oportunidade de saborear a alegria da vivência que aquela vida, que se foi, generosamente lhe presenteou.

Isso torna as coisas muito mais fáceis... e sensatas!


Este texto, como tudo, também chegou ao fim. Ele lhe deu alguma vivência? ;-)


Eu mesmo
27 outubro 2003

domingo, outubro 26, 2003

"Atrás do grupo-escolar ficam as jabuticabeiras.
Estudar, a gente estuda. Mas depois,
ei pessoal: furtar jabuticaba.
Jabuticaba chupa-se no pé.
O furto exaure-se no ato de furtar
Consciência mais leve do que asa
ao descer,
volto de mãos vazias para casa."

MENINO ANTIGO
Carlos Drummond de Andrade

Hoje é aniversário do meu irmão e estou na chácara repleta de jabuticabas deliciosas. Que bom ainda crianças quando nos tolerávamos.
Feliz aniversário mano.